Daltozo e postais

Aposentadoria bem sucedida – reinventando a própria vida –

 

Daltozo e postais

Aposentadoria bem sucedida – reinventando a própria vida.

José Carlos Daltozo.

Podemos considerar a aposentadoria como apenas uma etapa da vida, a exemplo da infância, adolescência, maturidade, velhice. Aposentar-se é ter criado condições de parar de trabalhar num determinado emprego ou atividade econômica, após cumprido um certo número de anos contribuindo com um instituto de previdência governamental ou particular e receber de volta, mensalmente, valores equivalentes ao que contribuiu.
Mas ser aposentado não é definhar, não é esperar a morte, não é deixar de lado a vida cotidiana. É, no meu entender, um período de realizações pessoais ainda maiores do que quando no trabalho convencional. É ter tempo de “viver a vida” em sua plenitude, sem relógio, sem patrão, fazendo o que gosta.
Eu trabalho desde os onze anos de idade, logo após ter concluído o famoso curso de datilografia. Meu pai me levou a um escritório de contabilidade e disse ao proprietário se não estava precisando de um garoto para tarefas triviais, que eu tinha “diploma de datilografia”, como se fosse algo extremamente importante. E na época até que era. O dono do escritório riu, disse que estava precisando de alguém com um pouco mais de idade mas, se eu realmente soubesse datilografar, podia me contratar. Deu uma folha em branco, indicou uma máquina de escrever e dobrou um jornal numa notícia qualquer, pedindo que eu copiasse. Ele gostou e assim fui contratado. Mas só consegui ser registrado a partir dos 15 anos, tanto é que me aposentei aos 45 anos de idade, com 30 de contribuição do INSS, ou seja, aposentadoria proporcional 30/35 avos, antes de mudarem as leis e criarem o tal fator previdenciário, idade mínima etc. Como eu prestei concurso no Banco do Brasil e tomei posse com 19 anos e três meses de idade, tenho a complementação da Previ, que paguei mensalmente por 27 anos. Portanto, é uma renda mensal suficiente para viver bem, até para alguns supérfluos, para uma viagem de vez em quando.

APOSENTAR-SE OU REINVENTAR A PRÓPRIA VIDA ?
Pouco tempo antes de me aposentar, já pensava o que fazer da vida. Ficar sentado, de pijama, vendo televisão dia inteiro? Definitivamente não. Ficar na janela vendo a vida passar, como faz Carolina na música do Chico Buarque? Também não. Queria fazer algo, mas que não mexesse com números, matemática, juros, contratos, coisa que fiz durante muitos anos de minha vida bancária. Cursei Letras na juventude, nas nunca dei uma aula na vida. Resolvi usar os conhecimentos adquiridos na faculdade e, junto com um amigo, resolvemos fundar um jornal em Martinópolis.
Moro em uma cidade pequena, de 25.000 habitantes, situada no Oeste do estado, próxima a Presidente Prudente. Não havia jornal na cidade, os que existiram anos antes sobreviviam pouco tempo. Dessa forma fundamos o FOLHA DA CIDADE. No início era mensal, fiquei seis anos como sócio, depois vendi minha parte, meu amigo ficou dono único. Passou o jornal a quinzenal, atualmente é semanal, e o jornal vai sobrevivendo, prestes a completar 19 anos sem interrupção. Como gosto de escrever, continuo colaborando semanalmente com duas colunas, uma de fotos antigas e comentadas da cidade e outra chamada “De tudo um pouco”, o nome já diz dos seus propósitos.
Sempre colaborei com publicações, seja jornais, revistas, informativos etc. Mesmo antes da aposentadoria, colecionava cartões-postais do mundo inteiro. Motivado, certamente, pelo meu gosto pela fotografia, outro dos meus hobbies. O postal geralmente é uma boa foto industrializada, copiada em milhares de exemplares, que os turistas adquirem e fazem rodar pelo mundo.
Antes da aposentadoria, também comentava com clientes do banco dos meus propósitos de um dia escrever um livro histórico sobre a cidade. Muitos incentivaram, geralmente filhos de pioneiros, alguns inclusive forneceram fotos antigas, que eu reproduzia e devolvia. Usei muitas dessas fotos no meu primeiro livro, MARTINÓPOLIS, SUA HISTÓRIA E SUA GENTE, que levou um ano de pesquisas e foi lançado no aniversário da cidade, em junho de 1999. Foi um sucesso, a primeira edição de mil exemplares esgotou em quatro meses, fiz segunda edição de 500 exemplares, demorou um ano e meio e esgotou também.

EXPLORANDO NOVAS TRILHAS DE VIDA.
O trabalho no jornal não me satisfazia, eu queria ficar livre para escrever meus livros, realizar minhas pesquisas, viajar, conhecer lugares, fotografar, cuidar da coleção de postais, manter intercâmbio com uma centena de colecionadores Brasil afora. Por isso tudo, resolvi vender minha parte na sociedade do jornal. E em 2002 lancei o segundo livro, BANCO DO BRASIL – 50 ANOS EM MARTINÓPOLIS, aproveitando o gancho que a agência local estava comemorando essa data de funcionamento. Outros livros foram lançados posteriormente: ÁLBUM HISTÓRICO E FOTOGRÁFICO DE MARTINÓPOLIS em 2004, CARTÃO POSTAL, ARTE E MAGIA em 2006, LOJA MAÇÔNICA 3 DE MAIO em 2007, NOS TRILHOS DA HISTÓRIA (relatos e fotos da E. F. Sorocabana) em 2008, UM NOVO AMANHÃ (sobre imigrantes japoneses) em 2008, SESSENTA ANOS SEMEANDO CONHECIMENTO (sobre a escola mais antiga da cidade) em 2010 e FAZENDA SÃO JOSÉ, também em 2010. Dois desses livros não foram vendidos ao público, foram feitos por encomenda de uma entidade (no caso da Maçonaria) e da família Junqueira (Fazenda São José), distribuídos por eles aos integrantes, parentes e amigos.
Publiquei recentemente meu décimo livro, COSTUMES E TRADIÇÕES RURAIS, com 128 páginas, papel couchê, contendo 160 fotos da temática “vida rural”.
Todos os meus livros tem boa dose de fotos antigas, dentro de cada tema. Dizem que uma boa foto vale mais que mil palavras, percebo que um bom número de pessoas que adquirem meus livros querem mesmo é ver as fotos, os usos e costumes, os carros, as empresas antigas, os esportes, a vida social e religiosa, a política, os hábitos, enfim, a vida em todos os seus aspectos e plenitude.

USANDO OS RECURSOS PESSOAIS
Outro dia li que o trabalho intelectual, qualquer que seja ele, até mesmo resolver palavras cruzadas, ler bons livros, revistas e jornais, retarda o envelhecimento e o aparecimento do temido Alzheimer. No meu caso, espero que ele não apareça jamais, porque vivo com livros nas mãos. Não consigo ir a um dentista, um médico, onde tenha que esperar horário, se não tiver um livro nas mãos, para passar o tempo.
Alguns amigos falam que não tem passatempo, eu brinco que “passa” eu tenho muitos, falta-me tempo para fazer tudo que gosto.
Vários dos meus colegas aposentados do Banco do Brasil mantém-se ativos, fazem caminhadas diárias, um gosta de pescar e vai junto com amigos semanalmente a pesqueiros. Outro gosta de viajar, está sempre visitando filhos, parentes, amigos ou mesmo cidades que não conhece. Há os que gostam de jogar futebol e fazem isso duas vezes por semana, além de assistir todo tipo de esportes na tevê por assinatura. Outro gosta de cozinhar, está sempre inventando pratos, seja no ambiente familiar ou em festas no clube. Cada um tem uma vocação, um tipo de passatempo. A Internet é unanimidade, seja para pesquisa de assuntos sérios ou para diversão, com games e outras atividades. Há os que se entregam a trabalhos em entidades beneficentes, como diretores de APAE, Creche, Asilo, Igrejas etc. Todas as atividades são válidas, remuneradas ou não.
Aposentar, como eu disse no início, não é o fim da vida. É um recomeço, é uma vitória pelo esforço de ter trabalhado um certo tempo e amealhado condições de agora desfrutar dos anos de vida que restam da melhor maneira possível.

José Carlos Daltozo – jcdaltozo@uol.com.br

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