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Empresários experientes: idade e dinheiro para abrir uma startup no Brasil

Empresários brasileiros com mais experiência iniciam negócios que são voltados para tecnologia de olho em desafios.

Por RENATO JAKITAS

Esqueça as bebidas energéticas, os acampamentos em eventos high tech e as noites em claro ao som de música alta programando códigos. Para além do estereótipo adolescente de empreendedorismo encarnado por Mark Zuckerberg, criador do Facebook, existe também um grupo no comando de empresas de tecnologia que nasceu, cresceu e construiu a carreira muito antes da invenção da internet.

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São homens na casa dos 50, 60 anos, experimentados no mundo dos negócios e financeiramente independentes. E que optaram por recomeçar como donos de startups. Eles foram atraídos pelo vigor da novidade e, principalmente, pelo impulso de experimentar um modelo de gestão que cada vez mais recebe investimentos mundo afora.

Esse enredo se encaixa bem na história do carioca Francisco Couto, hoje com 65 anos. Recentemente, ele inaugurou a startup Corretor Vip, resultado de três anos de pesquisas, testes com o mercado e conversas com colegas do ramo.

O negócio traz os conceitos de mídia social e marketing de rede para a venda de imóveis. Funciona assim: convidado por um colega, o corretor acessa a carteira de imóveis disponível no site. Se fechar contrato, o profissional recebe uma comissão que pode chegar a 6% do valor da transação e ainda garante ganho extra ao colega que o convidou para a rede social.

“Nossa plataforma é toda virtual”, afirma Couto, que há alguns meses sequer utilizava o e-mail como ferramenta de comunicação. “Em nosso site, cada corretor pode convidar até 20 colegas, ganhando parte da comissão deles.”

Couto é formado em engenharia e começou a vida profissional em uma incorporadora em 1976. Ele passou por algumas sociedades até erguer a imobiliária Nova Marca, que chegou a figurar entre as três principais do Rio de Janeiro. Em 2007, vendeu a empresa para um grupo de mídia. Com o dinheiro – o empresário não revela o valor da transação –, Couto poderia ter se aposentado e saído pelo mundo com a família. Mas isso nem passou pela cabeça do empreendedor.

“Eles (os novos proprietários do negócio) me obrigaram a cumprir uma quarentena. Fiquei meio sem rumo e, quando passou o prazo estipulado no contrato, chamei meu filho para me ajudar a bolar o Corretor Vip”, lembra Couto, sobre o início da iniciativa.

“Queria unir meu conhecimento sobre o mercado imobiliário com essas inovações tecnológicas”, conta o dono do site que já congrega aproximadamente 1,6 mil corretores.

Outro exemplo vem de Belo Horizonte. Na cidade, o empresário Marcelo Cenni, 52 anos, fundou a Heap Up, que faz pesquisas de opinião pela internet.

Cenni é dono de uma agência que opera no modelo tradicional de pesquisas faz dez anos. Há alguns meses, no entanto, investiu cerca de R$ 500 mil para erguer a Heap Up. O empresário está, na verdade, de olho em um negócio que segundo ele será o futuro do setor. “Daqui a pouco, ninguém vai querer responder pesquisa pelo telefone, muito menos pessoalmente. Vai ser tudo pela internet. E nós já fazemos isso”, diz. “A gente criou um sistema em que a pessoa se cadastra, responde tudo pela web e, no final, ganha crédito de celular, cupons para trocar por produtos ou ingresso para o cinema.”

Apesar do discurso tecnológico, Cenni considera-se um “dinossauro no ramo”. Por isso, convidou como sócio, além de um empresário local com a mesma faixa etária que ele, um jovem de 26 anos, recrutado por meio de um processo em universidades. “Não adianta brigar com o óbvio, não sou um nativo da internet”, afirma.

Estratégia parecida adotou Juarez Beltrão, 53 anos, de Florianópolis. Ao longo de quase 35 anos, ele foi dono de agências de publicidade na cidade. Mas após investir em uma empresa de tecnologia lançada por um parente, surpreendeu-se com o desempenho do negócio, que atingiu o ponto de equilíbrio em menos de um ano. Esse foi o estopim para sua guinada profissional.

“Vendi minha parte na agência, que vivia sua melhor fase, e montei a Flexy, uma plataforma para e-commerce com foco em grandes e médios clientes”, explica Beltrão. O empreendedor trabalha atualmente com dois sócios, ambos com idades entre 20 e 30 anos. “Eles tinham uma empresa, mas operavam sem dinheiro nenhum. Comprei o negócio e trouxe os dois como sócios. Tem sido uma experiência ótima. Eles sabem tudo de tecnologia, mas não têm experiência comercial. É ai que eu entro, com a flexibilidade que a idade traz.”

Fonte: Jornal Estadão

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