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SEUL – Park Kyung Rye se inscreveu em um curso de “bem-morrer” em Seul quando a morte daquele que foi seu marido durante seis décadas deixou a sul-coreana de 80 anos lutando contra pensamentos suicidas. Solitária e doente, ela procurou alívio no curso de seis semanas que busca mostrar aos anciãos como apreciar a vida através da preparação para a morte. As aulas de “bem-morrer” — o nome é um jogo de palavras com bem-estar — reflete os esforços para combater a mais alta taxa de suicídio de idosos do mundo desenvolvido, num país onde a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que 37% da população terá mais de 65 anos até 2050.
— Agora eu estou mais em paz comigo mesma e com a morte do meu marido — diz Park. — Redescobri a vida à luz da morte e prometi a mim mesma que não pensarei em suicídio e que viverei do modo mais alegre possível até que chegue a hora da minha morte natural.
Muitos da geração que ergueu a quarta maior economia da Ásia a partir das ruínas da Guerra da Coreia agora se encontram atolados na miséria, excluídos pelo boom econômico que eles ajudaram a construir. Para a presidente Park Geun Hye, o suicídio de idosos é tanto uma ameaça à saúde pública quanto um teste para sua promessa de melhorar a assistência aos idosos, que são fundamentais para que seu partido Saenuri mantenha o poder depois que o mandato dela acabar, em 2018.
Quase 5 mil sul-coreanos com mais de 60 anos se suicidaram em 2012, frente a 4.300 há cinco anos, o que impulsiona os esforços para convencer pessoas como Park Kyung Rye de que há uma alternativa. O salto é um dos motivos de a Coreia do Sul ter a taxa de suicídio mais alta entre os países da OCDE.
IMPACTO ECONÔMICO
Os custos econômicos da depressão e do suicídio aumentaram 42% entre 2007 e 2011, para 10,4 trilhões de wons (US$ 10,2 bilhões), segundo relatório de janeiro do Serviço Nacional de Seguro Médico. Cerca de dois terços provêm da renda potencial perdida e quase um terço deve-se à queda de produtividade, de acordo com o documento.
Os jovens sul-coreanos que se suicidam costumam ser levados a isso por pressões do sistema educacional e do mercado de trabalho, que são altamente competitivos. Entre os idosos, a causa tende a ser a penúria. A taxa de pobreza entre os idosos da Coreia do Sul, de 49,3%, foi a mais alta da OCDE em 2012.
— Estamos nos transformando em uma sociedade infeliz, que é velha e suicida — disse Lee Jung Min, professor de economia do trabalho na Universidade de Sogang de Seul. — Uma alta taxa de suicídio é sinal de disparidades econômicas e, se isso continuar, pesará na produtividade e na confiança do consumidor porque afetará parentes, amigos e todas as pessoas relacionadas às vítimas.
APOSENTADORIAS LIMITADAS
A Coreia do Sul demorou para recompensar seus idosos por construir uma das economias mais dinâmicas do mundo depois da guerra. O sistema de aposentadoria do país começou em 1988 e só passou a cobrir todos os trabalhadores em 1999. Ele não teve cobertura retroativa para aqueles que trabalhavam antes da implementação e as pessoas cobertas que estavam na reta final de suas carreiras receberam pagamentos limitados. Um pagamento mínimo básico para os idosos foi adicionado em 2008.
A OCDE estima que apenas um quinto dos idosos receba uma aposentadoria regular, enquanto 70% obtêm o benefício mínimo pela idade. O pagamento é de aproximadamente 5% do salário médio.
Com o aumento da taxa de pobreza entre os idosos, o governo está intensificando os gastos com a prevenção de suicídio, com iniciativas como as escolas de “bem-morrer“, que se espalharam desde 2006, quando o centro de bem-estar no Nordeste de Seul, que a aposentada Park frequentou, foi um dos primeiros a abrir suas portas. Dezenas de cursos iguais brotaram pelo país, oferecidos por funcionários de organizações públicas e privadas de bem-estar e, geralmente, em suas instalações.
— Os sul-coreanos tendem a pensar na morte como um modo rápido de acabar com as dificuldades — disse Park Hoon, pesquisador do instituto de pesquisas sobre a vida e a morte da Universidade de Hallym em Chuncheon, perto de Seul. — Mas a morte deveria ser vista como um lembrete de como a vida é preciosa e do porquê vale tanto a pena viver. É isso que as escolas de “bem-morrer“ tentam ensinar, ao mostrar aos seus alunos a natureza positiva da morte.
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