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Trabalho na terceira idade

Por BRUNO LISITA

Aposentados deixam a aposentadoria de lado e retornam ao mercado de trabalho.

“Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é a-bundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres”, Sêneca.

Dos cerca de 20 milhões de brasileiros aposentados, pelo menos 70 mil têm interesse de retornar ao mercado de trabalho com carteira assinada. Esse fato é apresentado por pesquisa realizada pela VAGAS Tecnologia, empresa especializada em consultoria de processos seletivos, e mostra que 36% dos aposentados inativos receberam pelo menos uma oferta para voltar ao trabalho nos últimos três meses. Já entre os 47% aposentados que se declararam ativos, 80% pretendem trocar de emprego.

A pesquisa apontou que um dos fatores responsáveis por animar os profissionais aposentados, foi o aquecimento do mercado de trabalho brasileiro nos últimos anos. Num cenário de baixo desemprego, em que há demanda por mão de obra qualificada, apenas 5% dos aposentados não pretendem voltar a trabalhar. A verdade é que a carência de mão de obra faz com que o profissional aposentado seja cada vez mais valorizado.

Nos últimos anos, profissionais mais experientes já vinham sentindo a maior disputa por mão de obra. Entre os trabalhadores com mais de 50 anos, a taxa de desocupação em novembro de 2012 foi de apenas 1,7%, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A população brasileira está envelhecendo e há cada vez menos ingressantes no mercado de trabalho, o que cria essa condição de excesso de oferta de emprego e estimula quem está fora do mercado.

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Essa busca por profissionais já aposentados é recente no Brasil e tem crescido exponencialmente tendo em vista esta realidade da escassez de pessoal qualificado. O cenário para estes futuros ex aposentados se mostra extremamente promissor. Os motivos para voltarem ao mercado são muitos: desde complementar a renda até se sentirem mais úteis. Os profissionais entrevistados pelo portal também informaram em qual área mais gostariam de atuar. Dentre elas se destacaram engenharia civil, mecânica e eletrotécnica; administração de empresas e vendas.

O perfil identificado é de idade média de 68 anos, pertencente à classe média e bacharelado completo. O levantamento, feito em novembro e dezembro de 2012, se baseou nos currículos cadastrados no portal de carreira vagas.com.br. Dos 476 entrevistados, 82% declararam estar aposentados e 18% ainda não. Dos inativos, 73% afirmaram estar nessa condição há pelo menos três anos.

Voltar ao trabalho

O aposentado que continua trabalhando no mesmo emprego ou foi contratado por uma nova empresa deve contribuir para o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). A Justiça reconhece que essas contribuições extras devem ser incluídas no cálculo da aposentadoria. Essa atualização no valor do benefício é conhecida como “desaposentação”.

Administrativamente, o INSS não admite um novo cálculo do benefício, porém, acata as decisões judiciais que determinam tal procedimento. O STF (Supremo Tribunal Federal) deve decidir ainda neste ano sobre as regras da “desaposentação”. Mais de 70 mil ações aguardam uma decisão.

Em Goiânia, entretanto, um cenário diferente é apresentado por Maria Helena Souza Guimarães, gerente da empresa Agência Goiás. Segundo a mesma, os aposentados que buscam recolocação no mercado de trabalho são quase que, em sua totalidade, pessoas tentando uma complementação da renda. Os empregos mais procurados são na área operacional e administrativa. Porém, o que ocorre é que muitas vezes estes aposentados, tanto pela idade avançada, quanto pelo desgaste corporal, não conseguem suportar este trabalho pesado e terminam por não conseguir seu intuito.

Outro fato ainda reportado, é que existe uma procura muito grande de aposentados por invalidez que optam pela recolocação, mas escolhem trabalhar na ilegalidade para não perder o benefício. No caminho de volta ao mercado, a maioria acaba deixando em casa a carteira de trabalho e vivendo na informalidade.

Realidade goiana

A diretora da filial Goiânia da Agencia de Empregos Global, Silvana Nunes, informou que a empresa possui uma busca pequena de aposentados procurando recolocação. Ela afirma que o perfil destas pessoas se assemelha com o já citado acima, de pessoas das classes C e D, que pretendem complementar a renda, e as posições mais procuradas são na área de serviços gerais.

Segunda ela, em Goiás, a busca de recolocação de profissionais qualificados, como os citados na pesquisa da empresa VAGAS, é incipiente devido à falta de hábito local em deixar a aposentadoria para retornar a ativa. Este é um fenômeno recorrente em São Paulo, onde as pessoas estão acostumadas a jornadas de mais atividade.

O retorno destes trabalhadores aposentados é bem visto pelas empresas, pois normalmente trabalham com mais afinco do que jovens inexperientes e já possuem know-how para começar o trabalho sem treinamento, diminuindo, consequentemente, os custos operacionais.

Este mercado, entretanto, apresenta um problema relativo à garantia de estabilidade no recebimento da aposentadoria, pois há uma falsa ideia de que o retorno ao trabalho acarreta a perda do benefício. Há um desconhecimento geral acerca da legislação trabalhista vigente, que avaliza a volta deste trabalhador, que passa novamente a contribuir com a previdência, gerando um recálculo do beneficio anterior, aumentando a renda, e consequentemente proporcionando uma melhora da qualidade de vida do mesmo.

Mais produtividade

A longevidade e a qualidade de vida, tão buscadas na atualidade, permeiam uma nova realidade: homens e mulheres da terceira idade não se conformam com a vida monótona, sem criatividade. Buscam movimento, alegria, aprendizado. Buscam trabalho, que enriquece o dia a dia. E por que não? Afinal, criar faz parte do processo evolutivo e, como a própria ciência assegura, é um caminho para viver mais e melhor.

Considerando os dados da atualidade (de acordo com o portal Terceira Idade, esse setor no Brasil cresceu cerca de 11 vezes nos últimos 60 anos, passando de 1,7 milhão para 18,5 milhões de pessoas nesta faixa etária, em 2025 serão 64 milhões e, em 2050, um em cada três brasileiros será idoso), a sociedade e o governo devem estar preparados para essa nova realidade e isso envolve também a questão trabalho.

Como o País está envelhecendo, o desafio que se impõe, preveem os demógrafos, é aumentar a idade produtiva da população, embora muitos não vejam com bons olhos essa direção. Em vez de estimular a ociosidade da terceira idade ou alterar o fator previdenciário, que poderia levar ao desequilíbrio receita/despesa, tornando-se insustentável, há que se considerar a hipótese de capacitar os idosos no intuito de adiar a retirada da vida produtiva.

O universo da chamada terceira idade é, contudo, muito complexo. Para muitas pessoas, a aposentadoria é uma época em que o tempo até então destinado ao trabalho pode ser mais bem aproveitado, seja junto da família ou no exercício de atividades prazerosas. Já para outras, é o momento certo para realizar um sonho de vida e há ainda quem precisa ou opta conscientemente por continuar trabalhando durante a velhice.

Neste momento, importa ressaltar que nascemos, crescemos e chegamos à velhice. E quando a velhice chegar é hora simplesmente de continuar, pois, se os ideais perduram, a vontade de lutar deve persistir dentro de todos. Sem essa garra, a vida não prospera e perde o sentido.

Fonte: Jornal DIÁRIO DA MANHÃ

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