electromagneticwaving[1]

Você conhece o que é o “efeito NOCEBO”? Leia este texto do Dr. Ricardo Teixeira, neurologista

Por Dr. Ricardo Teixeira*

Estudos recentes com indivíduos saudáveis mostraram que o campo eletromagnético de um telefone celular é capaz de provocar discretas e transitórias mudanças em padrões neurofisiológicos como a excitabilidade cerebral e seu fluxo sanguíneo.  Além disso, algumas pessoas queixam-se de dor de cabeça quando usam o celular e pesquisas então foram desenvolvidas para avaliar se o uso do celular realmente causa dor de cabeça.

electromagneticwaving

Indivíduos com queixa de dor de cabeça ao usar o celular foram estudados, sendo que uma parte deles foi exposta a um aparelho normal e outro grupo a um aparelho que filtrava o campo eletromagnético, ou seja, um modelo experimental que pode ser chamado de placebo. Ambos os tipos de aparelho provocaram o mesmo nível de desconforto nos participantes. A melhor explicação para a dor de cabeça associada ao uso de celular é o efeito nocebo.

A visão pessimista de que alguma coisa pode nos fazer mal pode realmente provocar efeitos negativos. A esse fenômeno é dado o nome de efeito NOCEBO que tem sua origem no latim e significa PREJUDICAREI. Essa expectativa negativa é a provável explicação para alguns dos efeitos adversos de medicações e outras formas de tratamento.

Uma pesquisa publicada recentemente confirmou que o efeito nocebo pode realmente explicar os sintomas físicos atribuídos às ondas eletromagnéticas. Cerca de 150 voluntários foram submetidos a um experimento em que metade deles assistiu a um documentário falando sobre os potencias riscos das ondas eletromagnéticas e outra metade, classificada como grupo controle, assistiu a uma reportagem sobre segurança de disponibilização de dados pessoais pela internet. Após os vídeos, todos eles eram avisados que estavam expostos a uma rede Wifi de mentira, sem qualquer radiação. Após a suposta exposição às ondas eletromagnéticas, 54% dos voluntários apresentaram sintomas como ansiedade e agitação, perda da concentração e formigamento nas extremidades. Os sintomas foram significativamente mais comuns entre aqueles que assistiram ao documentário dos riscos das ondas eletromagnéticas.

O efeito nocebo merece especial atenção dos profissionais da saúde, já que uma expectativa negativa por parte do paciente pode ter origem no próprio terapeuta, seja por sua dificuldade de comunicação, seja por uma aparência física que não inspira cuidados de higiene, seja por um modo extravagante de se comportar. Até mesmo as instalações físicas do local de atendimento têm importância.

É claro que alguns pacientes são psicologicamente mais propensos a apresentar o efeito nocebo, o que é condizente com o pensamento popular de quem pensa muito em doença acaba ficando doente. Um estudo populacional (Framingham) chegou a demonstrar que mulheres que acreditavam que iriam adoecer do coração tinham quatro vezes mais chance de morrer do que aquelas que não tinham essa expectativa negativa, mesmo com o mesmo nível de fatores de risco para doença do coração entre os dois grupos. Pensamento positivo no momento de iniciar um tratamento pode não só reduzir as chances do efeito nocebo, mas aumenta em muito a chance de chamar para perto de si seu irmão bonzinho e poderoso: o placebo. É claro que tudo fica mais fácil se o terapeuta também faz sua parte. 

Outras questões que não dependem nem do terapeuta, nem do paciente, parecem influenciar também. Alguns estudos nos mostram que até a cor das pílulas tem influência sobre o resultado de um tratamento: pílulas com cores quentes são mais estimulantes, pílulas com cores frias mais calmantes.  De acordo com o antropólogo americano Daniel Moerman, um dos maiores pesquisadores nessa área, algumas respostas são peculiares a uma determinada cultura. Na Itália, pílulas placebo azuis induzem bem o sono nas mulheres, mas entre homens têm tendência a efeito oposto. Qual a explicação? Moerman faz uma provocação interrogando se esse efeito não teria relação com o fato da camisa da seleção italiana ser azul…

* Dr. Ricardo Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

Tags: No tags

Add a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *