Romântico

A experiência vivida por uma caloura de uma das faculdades do interior de São Paulo me fez lembrar de mensagens que eu costumava passar, nos meus seminários de reinvenção pessoal para uma vida depois da aposentadoria. Sempre provocavam acaloradas discussões, pela divisão natural da sociedade em relação ao envelhecimento dos profissionais que atuaram durante 30 ou 40 anos e precisam continuar lutando para manter um espaço que eles ajudaram a criar, no mundo do trabalho.

Comecei a trabalhar com aposentadoria na década de 80 e, desde então, venho esperando, estimulando e torcendo para que o preconceito diminua e a sociedade seja multigeracional. Espero, já há 40 anos. Melhorou muito em relação àquela época, mas ainda falta muita coisa. A educação básica vai e está ajudando. Novas aberturas na cultura das empresas também ajudaram muito. A Legislação Trabalhista ainda não mostrou o quanto pode contribuir com a manutenção de trabalhadores que querem ou precisam envelhecer no trabalho. Tudo foi planejado para acabar ou parar aos 60 ou 65 anos de idade. Nesta década, somos muitos,  bem preparados profissionalmente, muitos com bom potencial financeiro e intelectual. Só precisamos juntar forças por um mundo multigeracional. Uma parte dos “gaps” profissionais atribuídos à idade, são fictícios para muitas pessoas. Vide os avanços tecnológicos. Sou romântico pois sei que este equilíbrio geracional chegará. Mas não sou ingênuo a ponto de esperar que ele venha sem muito esforço da nossa parte. Eu me incluo nesta parte, por já estar experimentando a Senioridade na própria pele.

  1. Não espere que tudo venha da sociedade, das leis ou das empresas. Muita coisa virá, mas nem sempre as melhores ou as adequadas ao seu nível de expectativas e preparação. Não é raro que “programas de inclusão de trabalhadores idosos” nivelem por baixo o tipo de espaço aberto.
  2. Não se abata em relação às suas perdas pessoais naturais no processo de envelhecimento. Valorize seus ganhos. São eles que abrirão as novas portas e não o que você já teve e está perdendo, gradualmente, por força da natureza.
  3. Seja o primeiro a acreditar que você pode, merece e tem todas as condições de estar em um lugar novo e adequado às suas potencialidades pessoais. É claro que algumas portas se abrirão, mas tente forçar um pouco a abertura de mais portas.
  4. Que tal se lembrar de uma das mais famosas frases de Zagallo (este você conhece bem) quando quiseram tirá-lo do comando da Seleção Brasileira de Futebol: “vocês vão ter que me engolir”. De vez em quando, o que precisamos é enfrentar as situações “com a faca nos dentes”.
  5. Ocupe um espaço no mundo com base nas suas competências, esforço e dedicação. Cresça, estude e melhore a sua formação constantemente. Esta força é a que vai compensar a que você perder.
  6. Procure definir um sentido para o que você está querendo, ao continuar ativo(a) e contributivo por mais anos do que a sociedade, as leis e o governo planejaram. Dê uma “banana” para estes referenciais de idade, mas retribua como puder, não apenas pelos seus direitos, mas também pela sua competência e vontade. Um sentido para a vida, no ponto em que ela chegou. Um sentido para a vida é um dos pilares do envelhecimento bem-sucedido.
  7. Na nossa sociedade somos valorizados pelo que fazemos e não pelo que fizemos. Portanto, não seja pego sem nenhuma atividade numa entrevista ou em uma negociação de trabalho.
  8. Pense em Geratividade. Seja o que você é, com a idade que tem e use o que você está ganhando com a idade. Não sabe que não temos apenas perdas com o envelhecimento? Leia sobre isso. Também temos ganhos. Temos formas diferentes de nos envolvermos com os desafios do mundo do trabalho. Mais estratégicas, com uma dimensão histórica e factual maior. Pense que, se você estiver competindo com jovens e estiverem disputando uma mesma cadeira ( cargo ou função) alguma coisa está errada. O seu espaço é mais estratégico, de referência, “benchmark” e com enormes possibilidades de que você venha a liderar, orientar e educar.

Estas são algumas das mensagens que eu passava, nos últimos 40 anos de trabalho com este assunto. Polêmicas, em alguns contextos. Mas, o meu público era formado por pessoas perto ou com mais de 60 anos! Uma pequena parcela da sociedade, sim, mas que merecia mais oportunidades para manter acesa a sua chama vital e a geratividade.

Acredito que precisamos continuar trabalhando para que os jovens nos aceitem, mas também reforçar as competências dos mais velhos para que eles ocupem novos espaços, sem benemerência ou leis. Estas duas forças poderão nos levar a uma situação melhor na luta para diminuir o preconceito contra pessoas mais velhas.

Aguinaldo Neri

Psicologo – CRP-06/00000059

Tags: No tags

Add a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *