Eustress

No século passado ! Eustress e Distress II

No século passado II

Gostei de falar sobre antigas vivências nas áreas de RH, olhando para o que está acontecendo, hoje. Melhoramos muito, principalmente em termos de aceitação das fragilidades e da necessidade de cuidarmos de nós. Sempre quis estimular a autogestão da própria vida e saúde, no século passado. Era mais difícil, por motivos culturais. Apoio isso, hoje, com a vinda das novas gerações ao mundo do trabalho.

Vou falar um pouco mais das minhas vivências com Stress e Programas de QVT. Uma outra constatação importante, no século passado, era a que as pessoas conheciam muito pouco sobre o tema Stress. Não tínhamos redes sociais, mas era o que circulava nos veículos de informação disponíveis e nas redes sociais presenciais, que eram as mais comuns.

Eu começava sempre o programa mostrando que o Stress é um mecanismo inerente ao desenvolvimento do ser humano e muito importante na sua sobrevivência. Quando um nosso antepassado via um Mamute pela frente, era a Síndrome de Adaptação Geral – SAG –  (Consultem Hans Selye, 1936), que organizava o seu corpo para lutar ou fugir, para sobreviver. É ela que organiza o nosso corpo para conseguir mais sangue e força quando precisa fugir e mais foco e atenção quando precisa decidir. Não concebo vida sem este mecanismo. Ele está presente na nossa vida, de várias formas. Para muitos autores, ele é confundido com Stress. É claro que os Mamutes mudaram de figura. Um acidente, um problema na empresa, uma doença na família, uma crítica inadequada recebida, uma notícia sobre guerra, inflação, desemprego ou uma pandemia.

Eu gostava de falar que o Stress era, na realidade, uma dupla: Eustress e Distress. O primeiro estava sempre conosco nos bons momentos, nos desafios de carreira, ao levar a esposa para a maternidade, ao pegar o filho no colo pela primeira vez, ao receber a notícia de uma promoção, fechamento de venda, diploma etc. Era o Eustress que fazia o Airton Senna tomar decisões precisas e rápidas, aos 300 kms por hora, com o Alain Prost a dois metros, também a 300 km por hora e querendo ultrapassar, de qualquer jeito. Quando os nossos filtros de percepção consideram que as pressões podem levar a desafios positivos e enriquecedores e experiências excitantes. O Eustress organiza nossas forças para utilizarmos ao máximo os nossos recursos pessoais para conseguir estes bons resultados.

Tendo informado sobre o Eustress, avisávamos que, mesmo sendo bom, a frequência, a intensidade e a falta de preparo transformavam algo positivo em um problema de saúde. Este era o Distress, mais conhecido, temido e gerador de mais problemas, ainda. Mas, era isso que era divulgado. O Stress é ruim. O Distress é ruim. Sem dúvida. O Distress vem quando as pressões são excessivamente frequentes, com grande intensidade e vindas de fontes fora do nosso controle. O organismo não aguenta viver muito tempo com aquela postura de preparação frequente do corpo para enfrentamento de ameaças, e começa a sofrer, passando por etapas de Alerta, Resistência e Exaustão (Burnout). Mas, a nossa cultura sempre investiu menos no aumento do Eustress e no melhor preparo pessoal para conviver com situações de pressão do que na “prevenção” do Distress. Eu sempre considerei que a ação mais inteligente era a de fortalecer a prevenção e o preparo para viver em contextos de pressão.

Efetivamente, como uma das premissas dos nossos programas no século passado, já que eu não posso viver num mundo sem pressões, melhor eu tentar preveni-las e, se não conseguir, estar preparado para conviver com elas da forma mais saudável possível. O grande desafio era evitar que os trabalhadores, e as pessoas de maneira geral, chegassem à etapa de exaustão ( ou Burnout). Quando isso acontecia, era um fracasso, do programa, da liderança, da empresa e da área de saúde da empresa. Efetivamente, também, a maneira pela qual as pessoas se envolviam com as pressões poderia influenciar a sua maior ou menor Qualidade de Vida no Trabalho, e consequentemente, melhor ou pior saúde.

Analisar as pressões do ambiente de trabalho sempre foi uma atividade que valorizei. Estas pressões podem vir de estilos de liderança, políticas de RH, fatores culturais, pressões internas relacionadas com valores, religião, política, dentre outras.  Todas estas forças, podem ser positivas ou negativas, depende das intenções de quem as execute.  Não consigo pensar em um ambiente de trabalho totalmente livre de pressões, mas conseguia pensar num ambiente de trabalho com melhor qualidade nas relações internas, o que era fator gerador de saúde. As responsabilidades, pensávamos, à época, deveria ser repartida entre os próprios trabalhadores (donos do próprio corpo), das lideranças, da cultura de RH e da empresa, e do governo. As grandes surpresas ficavam na parte que mostrava que os trabalhadores reagiam de forma diferente às mesmas pressões. Estilo de vida, projetos de vida, histórias e experiências passadas, por exemplo, faziam com que uma frase como “ o Diretor está te chamando com urgência para ir à sala dele” pudesse gerar Eustress ou Distress, dependendo da história de vida daquela pessoa.

Melhoramos muito na forma como as empresas cuidam da “Saúde Mental” dos seus colaboradores, mas aproveito a oportunidade para registrar boas lembranças, de bons programas de Prevenção e Administração do Stress Ocupacional.

Aguinaldo Neri

CRP 06/00000059

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