Fico muito feliz por ver que a atenção aos trabalhadores que envelhecem melhorou muito, desde a minha primeira atividade voltada para este grupo, em 1984, em uma ótima pareceria com Renato Bernhoeft. Muitos profissionais competentes abraçaram este desafio, muitas empresas se envolveram e muito conhecimento, tecnologias e metodologias foram gerados, nestas décadas.
Muitos profissionais fizeram a lição de casa, estudaram sobre o segmento e desenvolveram novas e interessantes estratégias para o desenvolvimento deste grupo.
Mas, a minha pele, que a Senioridade amaciou ainda sente falta de lições de casa de um dos principais atores neste cenário: as organizações. Vi muitas mudanças, sim, mas algumas mais cosméticas do que efetivas, para o tema envelhecer no ou apesar do trabalho. Envelhecer ativamente, sendo útil.
Eu fiz a pergunta acima para a preparação da minha Dissertação de Mestrado, em 1996. Os “sujeitos” eram profissionais de RH de grandes empresas da Região de Campinas, participantes de um dos importantes grupos de estudos da época. Fiquei surpreso com o choque que a pergunta causou.
O resultado foi o preocupantemente esperado: Média de respostas 45 anos. Com pequenas variações devido à idade das empresas participantes. Uau! Surpresa geral. Naquele grupo, a quase totalidade era homem, ocupando cargos de liderança, coordenação ou gerência de áreas de RH. Um terço do grupo já tinha mais do que esta idade. E aí eu fiz a segunda e fatal pergunta: quem decide isso? Outro choque.
As discussões me levaram a concluir, à época, que os profissionais de RH eram os Mestres de Cerimônia dos principais rituais para vida organizacional. Qual o papel deles neste ritual de grande impacto na vida das pessoas, que é o ritual de afastamento do trabalho? Afastamento via Aposentadoria. O que eles poderiam fazer para que este ritual de transição fosse o mais saudável e positivo possível? Muitas conversas depois e muita leitura me levaram a concluir que a área de RH poderia fazer muito mais, não apenas na gestão do ritual, mas de facilitar o processo de envelhecimento no trabalho e não apesar do trabalho. Uma parte variável, mas significativa dos participantes dos meus programas prefeririam continuar na empresa, caso pudessem viver e trabalhar de uma forma compatível com a sua idade. Ao final dos meus seminários eu fazia um levantamento das sugestões e desejos. Alguns mais operacionalizáveis, e outros não. Algumas sugestões dependeriam de grandes mudanças nas legislações do trabalho.
Sugestões que registrei, em 1996:
- Rever todos os procedimentos referenciados a idade, como por exemplo, idade máxima para participar de treinamentos.
- Permitir que os trabalhadores decidam se querem ou não se afastar da empresa ao atingir a idade oficial para aposentadoria. Eles podem decidir continuar a envelhecer e trabalhar na própria empresa, ou sair e adotar uma vida diferente e do jeito que quiserem. Trabalhar ou não trabalhar.
- Permitir que o processo de aposentadoria aconteça por etapas, de maneira que o trabalhador possa se preparar com mais calma e segurança para um outro estilo de viver e preparar seus substitutos. Evitar o rompimento total de relacionamento com a empresa.
- Manter algum tipo de relacionamento entre empregado e empresa, como por exemplo com o envio sistemático de jornais e comunicações gerais da empresa. Evitar romper estes vínculos.
- Criar estágios de carreira e tipos de cargos nos quais a Geratividade dos funcionários mais velhos permita que eles se transformem em mentores, consultores ou treinadores.
- Atualizar o networking de comunicação para dar preferência a dados positivos sobre o envelhecimento no trabalho e uma vida madura saudável.
- Valorizar o empreendedorismo ,facilitando e ajudando com os convênios certos, como o do Sebrae, para que os aposentandos pudessem aproveitar a network de negócios da empresa para vender seus produtos e serviços.
Dentre uma série de outras, mais específicas para cada empresa com a qual trabalhei.
Eu teria muito interesse em saber: na sua empresa, com que idade uma pessoa é considerada velha?
As empresas fizeram a sua lição de casa? Ou, mudaram para continuar mais ou menos como estavam?
Se você se interessou por esta pergunta, escreva algo nos comentários.
Aguinaldo Neri
Psicólogo CRP06/00000059
Consultor, Mentor e Orientador de pessoas em fase de transição para a aposentadoria.
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